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sexta-feira, 6 de março de 2015

DADOS TÉCNICOS DA EVOLUÇÃO DA VINICULTURA GAÚCHA

Se você, assim como eu, adora os bastidores do vinho vai gostar muito dessa matéria da REVISTA ADEGA!

Não há discussão de que a vitivinicultura no Brasil, apesar de já centenária, ainda está se aprimorando em diversas áreas e um passo importante para entender quais direções nossos produtores estão tomando foi dado recentemente com a divulgação da nova edição do Cadastro Vitícola, com informações de 2008 a 2012 (incorporadas a outras desde 1995).
O Cadastro, realizado em parceria pela Embrapa Uva e Vinho e o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), fornece dados importantes sobre o comportamento dos vinhedos e suas finalidades nas últimas duas décadas. Com um aumento das áreas georreferenciadas e, com isso, uma maior precisão no levantamento de dados, é possível verificar quais uvas são as mais plantadas em cada região e como seus cultivares evoluíram com o passar do tempo. Pode-se ainda detalhar os tipos e a origem dos porta-enxertos, os sistemas de condução mais usados, a idade média dos vinhedos etc. Tudo isso dividido por regiões e municípios.
São dados como esses que servem de base e devem respaldar políticas relacionadas à indústria do vinho. Entre as informações interessantes que se têm no Cadastro, por exemplo, é que – de 1995 a 2012 – a área total de hectares de vinhedos no Rio Grande do Sul aumentou cerca de 68% (de 24 mil para 41 mil ha). No entanto, as uvas viníferas respondem por apenas 16% da área atual, com pouco mais de 6,6 mil hectares, tendo crescido 43% no período. Já as uvas americanas e híbridas tiveram evolução bem maior desde 1995 (88% e 62% respectivamente), representando mais de 80% dos vinhedos (cerca de 44% para as americanas e 40% para as híbridas).

O sistema de condução em latada predomina nos vinhedos gaúchos
As uvas viníferas respondem por 16% da área atual de vinhedos no Rio Grande do Sul, com pouco mais de 6,6 mil hectares, tendo crescido 43% de 1995 a 2012

Domínio da Cabernet Sauvignon

A híbrida Isabel e a americana Bordô são disparadas as campeãs em área de cultivo no estado com 11.264,54 e 8.637,56 hectares respectivamente, significando que impressionantes 27% dos cultivares são de Isabel e 21% de Bordô. Esta variedade, aliás, vem apresentando um crescimento vertiginoso (mais de 5% ao ano) desde 1995, quando possuía pouco mais de 2,5 mil hectares.
A vinífera mais popular é a Cabernet Sauvignon. Ela aparece em sétimo lugar entre as uvas mais plantadas em termos de área, com 1.341,67 hectares e produção de 12.556,92 toneladas, ou seja, 20,31% da área e 15,5% da produção total de viníferas do Rio Grande do Sul. Interessante notar que a variedade teve um crescimento quase exponencial desde 1995, quando possuía 423,64 hectares, até 2007, ao atingir 1.868,48 ha, mas, desde então, vem caindo em torno de 6% ao ano.
A segunda vinífera mais plantada é a Merlot, com 887,41 ha, representando 13,43% da área. Em seguida vem uma branca, a Chardonnay, com 822,91 ha (12,46% da área). A Merlot, assim como a Cabernet Sauvignon, teve aumento de área constante desde 1995 até 2007, chegando a ocupar 1.089,45 hectares, mas também sofreu queda nos últimos anos. A Chardonnay teve comportamento parecido, com elevação até 2007 e, no ano seguinte, queda. Todavia, recuperou-se em 2009 e teve um grande salto em 2012, com aumento de 22% em sua área.
Já a Moscato Branco teve poucas oscilações no período, mas também vem sofrendo decréscimos desde 2008, e hoje tem 631,42 hectares, o que, contudo, não é muito diferente do que tinha em 1995 (611,03 ha). Ainda assim, ela se mantém entre as quatro viníferas mais cultivadas. Mais do que isso, ela é a de maior produção, com 13.729,33 toneladas, superando a Cabernet nesse quesito.
Mais abaixo na lista estão a Tannat, Pinot Noir (única entre as top 10 viníferas que apresentou crescimento quase 100% constante no período – lembrando que ela também é usada para fazer espumantes), Riesling Itálico, Cabernet Franc, Trebbiano e Moscato Giallo, todas já com menos de 400 hectares no total e produções de menos de 5 mil toneladas.
Aliás, se somados todos os tipos de Moscatos e Moscatéis, chega-se a 874,68 hectares, muito próximo dos valores da Merlot. Vale lembrar ainda que, no ano 2000, a Moscato Branco era a vinífera mais cultivada, tendo superado a Riesling Itálico, que, em 1995, era a número um da lista. A Cabernet Sauvignon só assumiria a liderança em 2001 e daí não saiu mais. Por outro lado a uva que mais perdeu espaço foi a Sémillon que, em 1995, era a sétima vinífera de maior área, com 279,58 hectares, e hoje conta com meros 24,53 ha.
No total, o estado cultiva 143 cepas diferentes de uva, sendo 99 viníferas. No entanto, apenas 29 variedades dominam 95% da área das vinhas ditas europeias. Para mais detalhes, confira os gráficos de evolução (desde 2003) das principais uvas cultivadas abaixo.

Latada x Espaldeira

Outro dado interessante do Cadastro é o predomínio da latada ainda como sistema de condução predileto, mesmo para as uvas viníferas. No geral, com dados de 2012, a latada representa mais de 91% da área, com mais de 37 mil hectares, enquanto a espaldeira tem 7,82%, com 3,2 mil ha. Se considerarmos apenas a área de viníferas, a latada representa cerca de 67% e a espaldeira pouco mais de 27%. Mais interessante ainda notar que a proporção de latada entre as viníferas aumentou desde 2008, quando atingia por volta de 58% dos vinhedos. Na época, a espaldeira compreendia 35% das viníferas.
A Cabernet Sauvignon é a uva mais popular nos vinhedos gaúchos, ocupando 20,31% da área total de viníferas do estado

Municípios

Segundo os dados e mapas do Cadastro, atualmente, 168 municípios do Rio Grande do Sul têm produção de uvas. A viticultura está presente em 28 das 35 microrregiões do Rio Grande do Sul, sendo a região de Caxias do Sul a mais relevante, com 32.952,33 hectares, ou 80,22% da área cultivada e responsável por 77,39% da área de variedades americanas, 92,19% de híbridas e 58,37% de viníferas do estado.
Na região de Caxias, destaque para Bento Gonçalves. O município lidera em área de vinhedos, com 6.194,24 hectares, pouco mais de mil hectares acima da cifra de Flores da Cunha (com 5.034,13 ha), que é seguida pela cidade de Caxiasdo Sul (mais de 4 mil hectares), Farroupilha (3,7 mil ha), Garibaldi (2,4 mil ha), Monte Belo do Sul (2,2 mil ha), Nova Pádua (1,5 mil ha), Antônio Prato (1,4 mil ha), Cotiporã (1,18 mil ha) e São Marcos (1,12 mil ha), as 10 primeiras na lista. Lembrando que os dados são de 2012.
Bento Gonçalves apresentou aumento de 17,68% na área vitícola nos últimos 10 anos, já Flores da Cunha subiu 18,53% no período, Caxias do Sul ,14,2%, e Farroupilha, 6,13%.
 
O estado cultiva 143 cepas diferentes de uva, sendo 99 viníferas. No entanto, apenas 29 variedades dominam 95% da área das vinhas ditas europeias

Uva para quê?

Por fim, o gráfico de 2012, que mostra a finalidade da produção de uvas do Rio Grande do Sul, aponta que 88% da uva produzida no estado (o equivalente a 672.482,84 toneladas) é vendida para terceiros que vão processar e elaborar sucos, vinhos e derivados. Apenas 3% das uvas, pouco mais de 26 mil toneladas, são processadas pelos próprios viticultores – uma queda acentuada em comparação com 2008, quando quase 43 mil toneladas eram processadas pelas próprias indústrias e cantinas rurais. De 2008 a 2012, aumentou também a produção de uvas para serem consumidas in natura (de 32 para 38 mil toneladas), que hoje representam 5% do total.
Nesse período, a produção total de uvas no Rio Grande do Sul oscilou. Apesar de nos últimos cinco anos ela ter apresentado um aumento de 12,8%, saindo de 688,7 mil toneladas para 757,5 mil, houve queda de produção em 2009 e 2010, retomada em 2011 e nova queda em 2012, reflexo não somente do clima, mas também dos aumentos e diminuições das áreas totais de vinhedos nesses anos.

Para pensar

Informação é fundamental, ainda mais num país com poucos dados e muitas opiniões. Temos certeza de que as informações também chamaram sua atenção. Nesse sentido, acreditamos que o Cadastro Vitícola deveria ser adotado por todas as regiões produtoras e não apenas pelo Rio Grande do Sul, afinal, no mundo das formulações estratégicas, fazer o diagnóstico errado equivale a receitar o remédio também errado.

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