Aqui você já entra aprendendo, o feminino de sommelier é sommelière, então não estranhe o nome do blog e nem pense que está errado!
Resolvi criar esse blog como uma maneira de dividir informações preciosas com apaixonados pela arte de Bacco. Aqui vocês encontraram alguns textos meus e outros que eu garimpo por ai e julgo itneressantes para dividir com vocês!
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O EFEITO DA MADEIRA NO VINHO


Muito se fala do vinho amadeirado, barricado.... A madeira é vista como status para o vinho, no entanto tem sido usada indiscriminadamente e de maneira exagerada por muitos produtores de forma a “globalizar” os sabores dos vinhos aos quais é adicionado.
Hoje, a grande maioria dos vinhos correntes que vemos por ai não são vinhos com passagem por madeira, e sim madeiras com passagem por vinho! Costumo categoriza-los como vinhos para cupim!
Acho que a presença de madeira no vinho tem uma importância muito grande, porém o exagero que tenho visto ultimamente ultrapassa os limites do aceitável. Coloca-se madeira em excesso em vinhos que não tem a mínima estrutura para tal.

Mas para que serve a madeira no vinho?

Na Antiguidade os vinhos eram conservados em ânforas de barro, porém esse era um artefato muito pesado e frágil. Aos poucos descobriu-se que era mais fácil de transportar os vinhos em barricas de madeira, e devemos essa descoberta aos celtas, inventores do barril, que transportavam o vinho em recipientes de madeira. Após as suas longas viagens, o vinho ia adquirindo um gosto e aromas cativantes, fruto do estágio em madeira, processo esse que se foi aprimorando até aos nossos dias.
Apesar de muitas madeiras terem sido usadas para amadurecer vinhos, chegou-se a conclusão que a melhor madeira para o vinho era o carvalho. Existem centenas de espécies de carvalho, classificados entre vermelhos e brancos. O primeiro tipo é demasiado poroso e, por essa razão, não serve para guardar vinho. Já o branco reúne as condições necessárias, existindo três espécies mais apropriadas: Quercus alba (carvalho americano), Quercus sessiliflora e Quercus robur (carvalhos europeus).
Além da extração de componentes da madeira (como aromas, sabores e taninos), os micro-poros da mesma permitem uma lenta entrada de oxigênio para dentro da barrica, ajudando a integrar e a arredondar os taninos e a acidez do vinho. É através deste processo que os aromas evoluem. A lenta oxidação faz os taninos se polimerizarem tornando o vinho mais macio, e também diminui a acidez em um fenômeno que chamamos de fermentação malolática. O estágio em carvalho também passa outros aromas  interessantes ao vinho que lá estagia (Baunilha, especiarias, caramelo, coco...) É por esta razão que o tipo de madeira escolhido é de extrema importância no resultado final que se pretende dar ao vinho. O carvalho francês, tem uma porosidade menor e aromas mais elegantes, dando ao vinho uma micro-oxigenação lenta e aromas discretos e bem integrados. Já o carvalho americano tem uma porosidade maior, o que pode desencadear um oxidação precoce do vinho nele armazenado, além de aromas mais intensos e menos elegantes, denotando mais cuidado do enólogo no acompanhamento do vinho ali colocado para amadurecer.
Barricas de carvalho são caríssimas e podem ser usadas por pouco tempo, com isso surgiu uma  alternativa mais barata que são as lascas de carvalho. Considerando que as barricas novas são efetivamente caras, é compreensível que os vinhos mais baratos não tenham a mínima possibilidade de sequer se aproximarem delas. A solução encontrada para dar um toque de complexidade a estes vinhos foi a utilização de lascas de carvalho (chips), principalmente no Novo Mundo. No entanto, os intensos sabores extraídos tem dificuldade em integrar-se ao vinho e tornam-se desagradáveis, principalmente se há exageros, o que é frequente e é ai que entra a minha restrição contra alguns vinhos excessivamente maquiados pela madeira.
È triste ver as pessoas sempre buscando vinho com passagem em madeira que encobre os aromas verdadeiros da casta, esquecendo que o verdadeiro aroma do vinho está na pureza de não passar por barricas demonstrando assim a sua verdadeira essência.

O estágio em barricas é excelente para o vinho, mas há de se ter cautela, pois nem todos os vinhos tem qualidade e estrutura suficiente para amadurecer em carvalho, principalmente em se falando de vinhos com custo inferior a R$ 50,00, é quase certo que a barrica não estará presente e que o consumidor estará levando para casa com certeza um vinho ”chipado”.

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