Aqui você já entra aprendendo, o feminino de sommelier é sommelière, então não estranhe o nome do blog e nem pense que está errado!
Resolvi criar esse blog como uma maneira de dividir informações preciosas com apaixonados pela arte de Bacco. Aqui vocês encontraram alguns textos meus e outros que eu garimpo por ai e julgo itneressantes para dividir com vocês!
Entre. leia, se apaixone e fique a vontade, a casa é sua!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

EXÓTICAS ITALIANAS

Matéria publicada por mim nas revista BEM MAIS nas edições 33 e 34

Exóticas italianas – Parte I
Conheça as mais raras uvas responsáveis pelos mais deliciosos sabores

Não escondo minha predileção para o diferente, o exótico, o pouco conhecido. Esse meu “lado B” encontrou respaldo perfeito na degustação de vinhos de castas raras.
Este mês abordaremos castas raras, mas que fazem vinhos de grande identidade e exótico sabor.
O primeiro país é a Itália, pois é de lá que vem meus vinhos preferidos!

REFOSCO DAL PERDUNCULO ROSSO
Uva tinta de maturação tardia cultivada principalmente no Friuli. O nome dessa uva se dá pelas suas gravinhas vermelhas. O vinho feito dessa uva tem coloração intensa, sabor encorpardo e excelentes níveis de acidez. Seus sabores tendem as ameixas e amêndoas.

TEROLDEGO
Uva tinta da região do Trentino. Seus vinhos apresentam características muito interessantes, produzindo desde vinhos jovens e agradáveis, até caldos que podem envelhecer por décadas. Quando feitos para guardar, sempre mantêm seu caráter frutado com ameixas e amoras, seguidos de toques defumados. Seus aromas são comumente carregados de notas terrosas e levemente herbáceos.

LAGREIN
Outra uva tinta da região do Trentino. Acreditá-se que seu nome deriva de Lagara, uma das colônias da Magna Grécia conhecida pela grande qualidade dos vinhedos. Já no século 14 os vinhos elaborados com essa uva eram considerados os melhores do país. A Lagrein dá aos vinhos coloração intensa, com reflexos granada, aromas de frutas vermelhas do bosque e toques herbáceos, paladar intenso com taninos aveludados e longa persistência.

No Brasil temos um excelente produtor que está resgatando as uvas da região do Trento: A Vinícola Barcarola, situada no Vale dos Vinhedos faz excelentes vinhos varietais das castas Teroldego e Lagrein.

AGLIANICO
Uva tinta do Sul da Itália, mais uma das saborosas uvas que florescem no solo vulcânico da região. Essa casta é talvez a maior vedete dentre as cepas tintas do sul da Itália, pois é encontrada na Campania, Basilicata, Calábria e Apulia. Nas duas primeiras regiões, gera desde vinhos simples até poesias engarrafadas. Seus fermentados mais conhecidos são: o Aglianico del Vulture e o famosíssimo Taurasi (da Campania). São vinhos muito intensos, concentrados e firmes, com muita personalidade e força.

NERELLO MASCALESE
Essa casta é uma de minhas preferidas. Tinta autoctone da Sicília, robusta e com grande potencial alcoólico que cresce aos pés do vulcão Etna, que também dá nome a um vinho D.O. com grande parte da Nerello Mascalese em sua composição. São vinhos elegantes, com muito álcool, corpo médio e aromas frutados. Vinhos fáceis de beber, aveludados e ao mesmo tempo misteriosos.

Apesar de ser uma uva com bom potencial de álcool, ela não produz vinhos muito profundos e concentrados. É, muitas vezes, mesclada com a mais intensa Nero d'Avola e também com sua irmã, a Nerello Capuccio.

SAGRANTINO
Uva tinta da região Úmbria, onde é considerado o mais importante vinhedo da região. Dá vinhos de coloração intensa, quase negros, com reflexos violáceos, apresentam impressionantes taninos e personalidade forte. Os umbros costumam se orgulhar e dizem de boca cheia que a casta Sagrantino é a que mais polifenóis contém, mas o que não se discute é que são vinhos opulentos, intensos e de grande corpo.

Em uma próxima edição falaremos um pouco mais dessas ilustres, raras e saborosas desconhecidas.

PARTE II

Dando sequencia ao artigo da edição anterior vamos falar de mais algumas saborosas e exóticas castas:

GAGLIOPPO: uva tinta cultivada no sul da Itália, principalmente na região da Calabria. A casta produz um vinho encorpado, rico em álcool e taninos que necessitam de um tempo na garrafa para amadurecer. Dá origem a outro de meu vinhos preferidos, o Ciró.

Um estudo italiano publicado em 2008 pela tipagem de DNA, mostrou uma estreita relação genética entre a Sangiovese de um lado e outras dez variedades de uvas italianas, por outro lado. Portanto, é provável que Gaglioppo seja um cruzamento de Sangiovese e outra uva, até agora não identificada.

DOLCETTO: Casta tinta cultivada no Piemonte, dá origem a vinhos de cor vermelha com reflexos violetas e aromas intensos com notas de cereja e frutas vermelhas, às vezes é ligeiramente amendoado.

Apesar do nome evocar doçura o vinho elaborado com essa casta possui pouca acidez e retro-gosto um pouco amargo e geralmente apresenta teor alcoólico baixo e deve ser consumido jovem.

O Dolcetto é um vinho tinto leve e agradável, com custo baixo em comparação a outros vinhos italianos. Agrada a maioria dos paladares e acompanha bem uma grande gama de pratos. É um verdadeiro coringa!

CANONNAU: Casta tinta cultivada sobretudo na região da Sardegna. Dá origem a vinhos de coloração vermelho rubi, mais ou menos intensa, tendendo ao laranja com o envelhecimento. Possui agradável aroma com notas de uvas e frutas vermelhas e sabor seco, aveludado e harmonioso.

Grande parte da bibliografia sobre sua origem, fala da hipótese dela ser proveniente da Espanha, da Uva Granache, mas recentes descobertas na ilha de Sardegna podem colocar por terra esta teoria.

Em Sardara, ao Norte de Cagliari, na Sardegna, um grupo formado por arqueólogos holandeses e italianos encontrou várias sementes de videiras datadas de 1.200 a.C. entre elas, estava a da Uva Cannonau.

Análises produzidas em laboratórios espanhóis, mesmo antes desta descoberta, já indicavam que a Uva sarda Cannonau, tida como importada da Espanha na Idade Média, é na verdade uma variedade autóctone da Sardegna.

Uma das particularidades dos vinhos produzidos na Sardenha é o fato de que boa parte dos vinhedos sobreviveu a terrível praga do filoxera (parasita originário da América), que praticamente dizimou os vinhedos europeus entre o final do século XIX e início do século XX. Por isso, muitas das parreiras da região são de pé franco. Os sardos são bastante orgulhosos de suas parreiras ‘puro sangue’.

MARZEMINO: Casta tinta da região de Vallagarina, distrito do Trentino. Dá origem a vinhos de cor vermelho rubi escura, quase roxa, com reflexos granada e azul. Seu aroma é suave, com notas de pequenos frutos silvestres, flores aromáticas, em especial violeta, toque de especiarias e menta. Possui teor alcoólico baixo e deve ser tomado jovem em até quatro anos da safra.

O Marzemino também é conhecido como vinho de Mozart, por ser citado na sua obra “Don Giovanni”.

Existem tantas variedades exóticas na Itália que bem poderíamos escrever um livro sobre isso!


terça-feira, 17 de junho de 2014

OS VINHOS MAIS CAROS DO MUNDO


Desde sua criação o vinho sempre foi um produto nobre, destinado a poucos e desejado por muitos.  O vinho sempre carregou consigo um ar de realeza, luxo e ostentação.
Por conta disso é que temos hoje vinhos que são verdadeiras joias, que custam pequenas fortunas por uma só garrafa.  Parafraseando Robert Parker eu acredito que nenhum vinho deveria custar mais de US$ 100 , o que passar disso é pura especulação, porque então temos vinhos que passam da casa dos US$ 1.000? A resposta é uma só: Lei da oferta e da procura”.
Em meados da década de 80, o bilionário Malcolm Forbes pagou, num leilão, US$ 155.000 por uma garrafa de vinho. A garrafa continha um vinho de 1787 que, segundo diziam, pertencia à adega do presidente Thomas Jefferson (um grande amante de vinhos de Bordeaux). A garrafa foi colocada em demonstração, na posição vertical e sob um forte foco de luz. A rolha secou, caiu para dentro e o vinho perdeu-se.
Resumidamente, vinhos caros são elaborados apenas em safras  excepcionais, feitos a partir de processos rigorosamente definidos e sempre em pequena quantidade, inevitavelmente são capazes de resistir ao tempo, impreterivelmente reconhecidos e aclamados por críticos no mundo todo e  feitos por produtores de grande renome e tradição.
Veja abaixo alguns casos dos vinhos mais caros do mundo com seu preço aproximado em reais. “ cotação 2003 “.

ROMANÉE-CONTI
Região: França- Borgonha
Uvas: Pinot Noir
Preço aproximado: R$ 30.000,00
Sem dúvida, a Domaine de la Romaneé-Conti é a propriedade mais famosa da Borgonha. Em uma parcela de 1,8 hectare, se produz apenas 6 mil garrafas do famoso La Romaneé-Conti a cada safra. O vinho é marcado por elegância e sedosidade e está entre os mais procurados e desejados do mundo.

PÉTRUS
Região:  França- Bordeaux
Uvas:  Merlot (predominante) , Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc
Preço aproximado: R$ 18.000,00 
Produzido em Pomerol, o Pétrus é um dos tintos lendários de Bordeaux, ainda que não seja um Premier Grand Cru (não existe classificação oficial para os vinhos do Pomerol). O vinho apresenta potência, volume e taninos firmes, mas elegantes. Ele se tornou especialmente conhecido depois que a Rainha Elizabeth II se encantou com o vinho e ele foi servido em seu casamento e em sua coroação.

CHÂTEAU MOUTON ROTHSCHILD
Região: França-Bordeaux
Uvas: Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot
Preço aproximado: R$ 15.000,00 
Desde o fim da II Guerra Mundial, os rótulos desse Premier Grand Cru são marcados por obras originais de artistas contemporâneos, convidados especialmente pela vinícola. Nomes como Salvador Dalí (1958), Joan Miró (1969), Marc Chagall (1970), Pablo Picasso (1973) e Andy Warhol (1975) já adornaram suas garrafas.


 CHÂTEAU LATOUR
Região: França-Bordeaux
Uvas: Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc
Preço aproximado: R$ 6.000,00 
Também um Premier Grand Cru, Latour tem o perfil clássico característico dos tintos da região de Pauillac, considerado por muitos o mais potente dos cinco Grand Crus. Uma garrafa magnum da safra de 1961, por exemplo, já foi vendida por US$ 62 mil. Uma curiosidade: por volta do século XVII, Lafite, Mouton e Latour pertenceram a um mesmo dono, o Marquês de Segur, dito "Príncipe dos Vinhos".

CHÂTEAU MARGAUX
Região: França-Bordeaux
Uvas:  Cabernet Sauvignon,  Merlot, Petit Verdot e Cabernet Franc
Preço aproximado: R$ 5.000,00
Junto com o Château Lafite, Margaux é o mais estiloso e aristocrático dos Premières Grand Crus. Poderoso e elegante, sua estrutura lhe garante grande longevidade. Gioacchino Rossini, um dos mais famosos compositores italianos de ópera chegou a compor uma canção em homenagem a este vinho.

CHÂTEAU CHEVAL BLANC
Região: França-Bordeaux
Uvas: Cabernet Franc e Merlot
Preço aproximado: R$ 5.000,00
Sem dúvida, um dos mais profundos vinhos de Bordeaux, classificado como PremierGrand Cru Classé A da região de Saint-Émilion. Cepas: Cabernet Franc e Merlot. Ganhou mais notoriedade no filme "Sideways" e também em "Ratatouille". Uma garrafa de 6 litros já foi vendida por mais de US$ 300 mil em leilão recente.

CHÂTEAU LAFITE ROTHSCHILD
Região: França- Bordeaux
Uvas:  Merlot, Petit verdot e Cabernet Franc
Preço aproximado: R$ 3.500.00
Classificado como o primeiro dos Premières Grand Crus em 1855, a pequena e elegante vinícola é sinônimo de riqueza, prestígio, história, respeito e é conhecida por produzir vinhos de notável longevidade. Uma garrafa de 1787 deste vinho já foi leiloada por US$ 160 mil.

A pergunta que não quer calar: Valem o que custam?  Particularmente posso falar do Chateaux Mouton Rotchileld safra 1975 (avaliado na época em cerca de US$ 7.500) que meu avôdrasto abriu só para nós dois..... a experiência de tomar um vinho somente um ano mais novo que eu e com um homem que eu admirava demais foi fantástica.... o vinho deixou saudades, lembranças, mas falando francamente e gustativamente não foi  o melhor vinho de minha vida, foi sim o mais inesquecível! E acho que isso que dá o valor ao vinho o fato dele marcar a sua alma e não ser esquecido jamais!


quarta-feira, 4 de junho de 2014

MULHERES NO COMANDO!

Dia desses passei pelo dissabor de estar em um restaurante com meu marido, eu mesma escolher o vinho e quando o garçom veio trazer a bebida, ignorou-me solenemente dando a prova do vinho ao meu companheiro. Meu marido, já acostumado a esses “escorregões” das mal treinadas equipes de restaurantes, passou-me a taça, porém ainda tive que suportar a cara de desdém do “profissional” que nos servia, como se parecesse dizer: “Só me faltava essa, uma mulher que entende de vinho.”



O mau serviço de vinhos não é novidade em lugar nenhum do mundo, eu mesma já treinei equipes de garçons em restaurantes famosos e convivi de perto com a “surpresa” desses homens ao perceber que uma mulher não entendia somente de refrigerante light!

Quem acha que mulher não entende de vinho, além de preconceituoso é desinformado, demonstra uma imensa ignorância sobre a história do vinho. Com certeza nunca ouviu falar das grandes damas de Champagne, como Louise Pommery, madame Lilly Bollinger e a viúva Clicquot (esta muitas vezes mais conhecida como a velhinha de touca na tampinha do champagne que ostenta seu nome). Aliás, falando diretamente sobre a viúva Clicquot, esses mesmos desinformados devem ignorar também o fato de que foi ela, a velhinha da touca, que descobriu o método de eliminar as borras de dentro do champagne, o método remouage.

Esses seres guturais que ignoram a sapiência de uma mulher no vinho, também não devem saber nada sobre a maravilhosa Madame Pompadour que disse que: “O champagne é a única bebida que deixa as mulheres ainda mais bonitas”. Ou de Maria Antonieta, cujos seios serviram de molde para taças nas quais eram servidas o borbulhante líquido. Sem falar na grande avaliadora de vinhos Jancis Robinson, a minha querida professora Karina Cooper ou a escritora Karen MacNeil, responsável por uma das mais completas obras literárias de vinho do mundo e escritoras de vários livros que são reverenciados pelos enófilos; além de outras tantas enólogas que fazem vinhos maravilhosos, que certamente muitos homens tomam de joelhos. Caso de Laura Catena, que elabora os famosos vinhos de Catena e Luca; Suzana Balbo, que produz sensacionais Malbecs;  Maria Luz Marin da premiadíssima Casa Marin, no Chile;  Felipa Pato, que tem encantado os paladares do mundo com seus vinhos portugueses com toques novo-mundistas; Lalou Bize-Leroy  denominada a rainha da Borgonha, com vinhos  que se iniciam na casa dos U$ 500; além é claro, das já citadas damas de champagne, entre muitas outras enólogas que estão cada vez mais encantando os paladares do mundo com vinhos cheios de sutileza, elegância e mistério!

O sucesso e o crescimento da participação das mulheres no mundo do vinho deve-se, sobretudo, a uma maior sensibilidade, tanto na parte sensorial, pois sentimos aromas e sabores com mais facilidade, quanto na parte intelectual, pois as mulheres acabam se dedicando mais a pequenos detalhes, lendo mais e ouvindo mais, com isso a busca por informações acaba não cessando com a simples conclusão de um curso. A sede de saber das mulheres é naturalmente mais forte que a dos homens, e alia-se a isso ainda o fato de a mulher ser mais humilde e querer aprender mais.

Não estou querendo fazer apologia ao feminismo, longe de mim! Mas experimente em um restaurante comparar o atendimento de um sommelier e de uma sommelière, depois vocês me contam do que gostaram mais!