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quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Do Monastério à Meia-Noite: A Jornada do Espumante Até o Réveillon

 


Tudo na bebida evoca comemoração e felicidade — é quase como se cada bolha carregasse uma pequena fagulha de esperança para o que está por vir. E não é por acaso: o espumante sempre foi sinônimo de celebração, encanto e aquele brilho especial que combina perfeitamente com a chegada de um novo ano. O próprio ato de abrir a garrafa já funciona como uma espécie de ritual — o som do pop parece marcar, simbolicamente, o início de um novo ciclo. O brinde, então, sela tudo: união, amor, bons desejos e a sensação de que estamos todos juntos no mesmo barco, remando rumo a 365 dias novinhos em folha.

Por que bebemos espumantes no Réveillon?
Entenda essa tradição

O Réveillon é quase um festival de superstição global. Pular ondas, vestir branco, comer lentilha, guardar semente de uva na carteira… Cada cultura tem sua receita para atrair sorte. Mas, de todas as tradições do dia 31, uma se tornou praticamente universal: o brinde com espumante — especialmente o icônico champagne.

Essa imagem é tão forte que se tornou praticamente uma linguagem universal. Em qualquer lugar do mundo, mesmo sem falar a mesma língua, alguém ergue uma taça borbulhante e todos entendem: “celebração”. Mas como esse costume nasceu?

A história é longa, deliciosa e cheia de boas curiosidades.

Embora o hábito de celebrar com vinho exista há milênios — romanos, gregos e egípcios já consideravam a bebida parte essencial de qualquer cerimônia — o espumante, como o conhecemos, só apareceu muito depois. Ele surge no século XVI quase como um “acidente feliz”, já que os vinhos armazenados em regiões frias sofriam uma segunda fermentação espontânea na garrafa, criando bolhas indesejadas (na época). As garrafas, obviamente, explodiam. Era perigoso, confuso… e o início de uma revolução.

O aperfeiçoamento demorou dois séculos, até que o método tradicional — hoje chamado de Champenoise — ganhasse fama e refinamento. E aqui entra um personagem famoso, cercado de mitos e fatos fascinantes: o monge beneditino Dom Pérignon.

Apesar de existirem lendas exageradas — como a de que ele teria “inventado o champagne” ou dito a famosa frase “Estou bebendo estrelas!” — o papel real de Dom Pérignon foi importantíssimo. Ele contribuiu para aperfeiçoar a produção na região de Champagne, especialmente no controle dos cortes (assemblage) e, principalmente, na melhoria da vedação das garrafas.
Na época, tampas de madeira e estopa eram comuns, mas não seguravam a pressão. Dom Pérignon teria ajudado a aprimorar o uso de rolhas de cortiça, fixadas com cordas mais resistentes, evitando que a pressão interna expulsasse a vedação. Esse avanço foi essencial para que os espumantes pudessem finalmente ser armazenados com segurança — e para que chegassem à mesa sem explodir pelo caminho.

Curiosamente, apesar de toda essa história clássica, os primeiros espumantes bem-sucedidos foram produzidos na Inglaterra. Os ingleses dominavam a tecnologia de fabricação de garrafas mais resistentes, capazes de suportar o CO₂ da segunda fermentação. Sem eles, talvez nem a França tivesse conseguido domar essa bebida teimosa e borbulhante.

Quando o espumante finalmente se estabilizou, ganhou status instantâneo. Era caro, raro, glamouroso. A nobreza francesa adotou a bebida como símbolo de luxo — e, detalhe curioso, acreditava-se que ela embelezava as mulheres e deixava os homens mais inteligentes. O marketing do século XVIII já dava as suas bolhadas.

Do século XVIII para cá, o espumante se tornou a bebida oficial dos grandes marcos. Ele batiza navios, consagra campeões da Fórmula 1, acompanha inaugurações, casamentos e viradas de vida… e, claro, viradas de ano. A combinação entre efervescência, brilho dourado e sabor fresco transmite a sensação de renascimento, prosperidade e alegria — exatamente o que esperamos de um novo ciclo.

E aí chegamos ao Réveillon.

Mesmo sem sabermos ao certo quando a tradição começou exatamente, é fácil entender por que ela se espalhou com tanta força. O espumante sempre foi associado à celebração. À medida que se tornou mais acessível, a tradição deixou o palácio, desceu as escadas da aristocracia e chegou às mesas das famílias comuns, no mundo inteiro. Hoje, há espumantes para todos os gostos, estilos e bolsos — e isso só fortaleceu o hábito.

No fundo, brindar com espumante no dia 31 é quase como brindar à própria vida. É um jeito borbulhante de dizer: “vamos recomeçar?”

E quer saber? Independentemente do rótulo escolhido, o mais importante continua sendo o mesmo desde os tempos de Luís XIV: celebrar rodeado de boas pessoas, bons sentimentos e boas expectativas.

Que sua taça esteja sempre cheia de motivos para brindar — no Réveillon e em todos os dias do ano. Santé! 🥂✨



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