Um
dos aspectos mais interessantes em uma degustação de vinhos são os aromas.
Impressionante a capacidade que as pessoas tem de criar aromas nos vinhos, de
banana a cerejas crocantes, de mineral a asfalto quente da route 66, de couro a lã de ovelhas molhada em
uma chuva de outono no final de tarde... o arsenal de aromas e incrível e
sempre tem novidade.
Mas falando sério, de
onde vem os aromas do vinho e como adestrar nosso nariz para senti-los?
Todo e qualquer aroma
apresentado pelo vinho decorre de substâncias químicas nele presentes,
originárias da uva, dos processos fermentativos a que são submetidas, ou do seu
amadurecimento e envelhecimento.
Os aromas presentes no
vinho podem ser primários, secundários ou terciários. Os primários provêm de
substâncias presentes na uva e que permanecem mais ou menos tempo no vinho. Os
aromas secundários são gerados pelos processos fermentativos e pelo estágio em
madeira, são citados nas degustações como baunilha, chocolate, caramelo, coco e
amêndoas. Aromas terciários são aqueles que se desenvolvem ao longo dos anos,
em vinhos com potencial de envelhecimento em garrafa, na ausência de oxigênio.
Esse conjunto de aromas é conhecido por “bouquet”. Seu desenvolvimento é
acompanhado pela perda dos aromas varietais e frutados, mas garante uma complexidade
maior na análise sensorial dos vinhos.
Como sentir esses
aromas? Cheirando! Cheirando tudo! Ninguém vai reconhecer aroma de lichias se
nunca nem viu essa fruta em sua frente! Vá na feira e não tenha pudores de
cheirar frutas, verduras, legumes, temperos. Quando começar a chover perceba o
aroma que exala do asfalto, da terra, das arvores. Cheire flores, amasse folhinhas de arvores,
temperos e sinta seu aroma. Entre em um bosque depois da chuva e inspire
profundamente, isso é o toque terroso, que os franceses chamam de
"sous-bois". Guarde essas sensações. Ninguém será um bom degustador
de vinhos se não tiver o hábito de cheirar tudo!
Minha avó implicava
comigo desde criança porque eu tinha mania de cheirar tudo, me dizia que era
falta de educação, mas eu nunca consegui evitar, sempre tive um nariz afiadíssimo
para todos os cheiros. Na degustação de vinhos eu me encontrei, pois ali sim eu
tinha que cheirar muito!
Não se acanhe se nas
primeiras vezes não conseguir identificar aromas, é normal! O habito se cria. O
primeiro passo é saber se o cheiro do vinho lhe agrada ou não, depois com o
tempo você começa a identificar as frutas vermelhas dos tintos e vai vibrar ao
identificar de cara o abacaxi passado em uma taça de chardonnay de novo mundo
ou o xixi de gato em um Sauvignon Blanc do vale do Loire!
Então vá lá agora abrir
um vinho e anotar que cheiro te parece?
MATERIA DE MINHA AUTORIA PUBLICADA NA REVISTA CIRCUITO SUL