Dizem que
Deus é onipotente e onipresente.... eu discordo. Deus erra, se não errasse não
teria feito barata, marimbondo, carrapato e nem teria me feito nascer em São
Paulo!
Nasci na
Pompéia, zona oeste de São Paulo, me criei na Freguesia do Ó, zona norte,
passei minha adolescência no Ibirapuera, zona sul e me perdi na vida louca novamente na zona oeste, mas
precisamente, Pompéia, Perdizes e Vila Madalena, por tantas loucuras que fiz por pouco não
nasci e morri no mesmo bairro. Minha
vida adulta se dividiu entre a região da Paulista e o Jaguaré.
Apesar de
conhecer São Paulo como a palma de minha mão nunca me senti em casa. Sempre me
senti um pássaro na gaiola, sempre sufoquei na cidade,apensa a noite e a
madrugada me atraiam, o lado obscuro da cidade, de dia a Cidade era para mim o
inferno, um inferno que eu era obrigada a viver dia a dia!
Passei um bom tempo de minha vida adulta em Paraty, noites insones a
beira do cais, vários porres de cachaça de banana e abacaxi, noites inteiras a
beira mar escutando as ondas, meio de mato em busca de cachoeiras e chegar a
conclusão que pé na terra me enjoava e em no balanço das ondas que eu
encontrava meu equilíbrio..... Mas as
pessoas que viviam a beira mar me inquietavam, não me completavam e eu sempre lembrava de uma viagem aos meus
08, 09 anos de idade que eu havia ido a
Santa Catarina...... foi o mais perto da perfeição que eu havia
chegado.... e eu sabia que havia mais, muito mais!
Um
dia São Paulo me trouxe um amor, esse amor me trouxe um casamento, essa casamento
me trouxe uma lua de mel e a escolha: Onde quer passar a Lua de Mel?, Sem
pestanejar eu disse Garibaldi, “ a
terrra da Champanha”. Apreciadora desde muito cedo do verdadeiro champagne, não
posso negar que pensei na França...... mas mesmo que houvesse condições nada
poderia me fazer mais feliz do que pisar em solo gaúcho!
Chegar ao
Rio Grannde do Sul foi como voltar para casa, me reencontrar sem nunca ter me
perdido! O ar parecia mais puro, parecia suprir com tanta facilidade a “sede”
de meus pulmões!
A volta a São Paulo trouxe lágrimas, como não deixou
de haver todas as outras vezes que retornei a essa cidade inferno,
São Paulo me
trouxe também uma loja e essa loja me aproximou anida mais do Rio Grande Sul.
Foram varias viagens por conta de estudo, negocios, oportunidades. Cada viagem
me enraizava ainda mais.... lembro uma vez ao desembarcar em Caxias do Sul,
lágrimas corriam em meu rosto e eu balbuciava: “ Voltei, cheguei em casa!”
Eu vivia o
Rio Grande do Sul, estudava a história do estado, me emocionava absurdamente
com a “Casa das 7 mulheres” e “ O Tempo e Vento”, acompanhava o clima, observando
com tensão e cuidados chuvas, geadas, tempestades.....
A loja me
trouxe desgostos, necessidade de recomeçar, e porque não recomeçar em “minha
terra”. E assim foi! Em um acesso de coragem e loucura largamos tudo e partimos
rumo a uma nova vida no Rio Grande do Sul.
Chegar em
solo gaucho, de mala, cuia, filho, marido e gatos foi o inicio de toda alegria
que sempre imaginei estar reservada para mim!
A cidade me
acolheu como se eu fosse uma filha querida
a muito tempo distante. Cada nascer e por do sol era uma homenagem a
minha coragem e presença.... lágrimas de felicidade que eu derramava sobre a
terra brotavam flores em minha alma e meu coração... eu estava finalmente em
casa!
Hoje, gaúcha
de coração acordo ao nascer do sol feliz ao ver a névoa se dissipando aos
poucos, espero ansiosamente o frio e aas geadas, aprecio as torrenciais chuvas
e o céu lampejando em raios ofuscantes
na tempestade. Aprecio o clima puro, os extremos de frio e calor, o cheiro das
flores que invadem o ar todos os dias, o
cheiro de lenha queimando no fogão e na churrasqueira e o cheiro de uva que invade a cidade na época
da safra. Impressiona-me ainda a magia do brotar das plantas depois do inverno,
arvores e plantas secas se vestindo aos poucos de verde. O céu estrelado que as
vezes tem tantas estrelas que parece que vai cair sobre nós... a pureza da lua
em todos os seus quartos, adoro ver a lua cheia refletindo sobre as águas do açude
e ouvir o coaxar dos sapos e os sons de todos os bichos noturnos, aprecio tudo
isso com uma taça de vinho na mão, vinho da terra, fruto da paixão, do sangue e
do suor de gaúchos apaixonados como eu!